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Prefeitos do ABC começam a “descolar” de Doria e se reaproximar de Alckmin

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No começo foi uma febre. O fato de João Doria (PSDB) ter sido eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno em 2016, estourando em popularidade, fez com que o empresário se tornasse o “mais novo amigo de infância”, o “queridinho” dos novos prefeitos do ABC. Alguns deles, e mais fortemente os tucanos Paulo Serra, de Santo André, e Orlando Morando, de São Bernardo, passaram não apenas a paparicá-lo como a imitá-lo, apostando no marketing excessivo e na superexposição nas redes sociais, com enxurrada de lives (transmissões ao vivo) – Morando chegou a se fantasiar em ações de zeladoria, assim como o “gestor inspiração” que lhe emprestou até o jingle no segundo turno eleitoral (o “João trabalhador” virou “Morando trabalhador”). Ao que parece os estilos estão mais contidos e o “oba-oba” vai perdendo força.

Com a popularidade de Doria em queda – após sucessivas viagens pelo país para emplacar sua candidatura ao Planalto (com direito a Lauro Michels, PV, de Diadema, e Kiko Teixeira, PSB, de Ribeirão Pires, em sua caravana), deixando a capital paulista, teoricamente, em segundo plano, além de ações administrativas que vêm repercutindo negativamente – prefeitos das cidades da região já começam a mudar de postura, inclusive no que diz respeito à corrida pela Presidência da República em 2018. Quando parecia que o prefeito de São Paulo receberia manifestações de apoio, o tucanato do ABC já se decidiu por Geraldo Alckmin (PSDB), governador do Estado – que, em 2006, ficou com 39,17% dos votos em disputa presidencial com Luiz Inácio Lula da Silva (eleito com 60,83%) no segundo turno.

O primeiro a insinuar publicamente preferência por Alckmin foi Paulo Serra, ainda em maio. Ele não só defendeu o nome do governador como candidato do PSDB ao Planalto, mas para a presidência do partido, em meio à crise interna provocada pelas denúncias contra o mineiro Aécio Neves – salvo de perder o mandato por seus pares no Senado. “O Brasil precisa de um gestor pé no chão e com experiência”, disse o prefeito andreense na ocasião. No começo deste mês, em entrevista à TV online da revista Veja, Paulinho – que em agosto recebeu Doria, com pompa, para a abertura do 1º Meeting Empresarial de Santo André – reforçou seu posicionamento e foi além: “O PSDB pode enfrentar custo eleitoral pela demora em lidar com o caso Aécio (que ainda hoje resiste em abrir mão da presidência do tucanato).”

Seis prefeitos do ABC se reuniram no apartamento de Orlando Morando, em São Bernardo, para jantar com Alckmin, no final de agosto

Orlando Morando também já começa a se reaproximar de Alckmin, a quem sempre foi fiel – a aparente preferência por Doria como presidenciável chegou a causar estranhamento (e até ciumeira) nos bastidores. No final de agosto, o chefe do Executivo de São Bernardo reuniu outros seis prefeitos do Grande ABC (exceto Lauro Michels) e o prefeito de Santos – o também tucano Paulo Alexandre Barbosa – para um jantar em sua casa com o governador. Durante o encontro, Alckmin descartou Doria como candidato a presidente pelo PSDB. Um mês antes, era o próprio Doria quem jantava no apartamento de Morando com prefeitos da região. No início de setembro, o prefeito são-bernardense afirmou que a candidatura de Alckmin (a presidente) é a “lógica natural”.

Doria em jantar com cinco prefeitos do ABC, um mês antes de recepção ao governador

Nos últimos dias, José Auricchio Júnior (PSDB) engrossou o coro ao se assumir como mais novo cabo eleitoral do governador. O prefeito de São Caetano – que já foi secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude quando estava no PTB e nunca escondeu admiração pelo estilo de Alckmin – começou a disparar via WhatsApp e em suas redes sociais uma arte com a mensagem “saiba porque Geraldo Alckmin é o mais preparado para o País” junto com link para o site da pré-campanha do tucano, descrito por ele como “um grande homem público, de trabalho e realizações”.

Gabriel Maranhão, prefeito tucano de Rio Grande da Serra, que em 2014 defendeu a reeleição do governador mas apoiou Dilma Rousseff (PT) para a Presidência – o que gerou mal estar no PSDB -, também deve se manifestar em favor de Alckmin.

E agora Doria?

Ao prefeito da Capital, tudo indica, restará a saída do PSDB (coisa que o próprio Alckmin já sugeriu) – o DEM é um dos partidos mais entusiasmados por seu passe – caso queira insistir na candidatura a presidente em 2018. Outra opção é concorrer ao governo de São Paulo (algo que agora Alckmin também cogita). Essa tese, inclusive, começou a ganhar força, lembrando que o partido não quer abrir mão de candidatura própria em favor do atual vice-governador, Márcio França – que já recebeu publicamente o apoio de Michels (atual desafeto de Morando), prefeito de Diadema. O ABC tem dois prefeitos do PSB, partido de França: Atila Jacomussi, de Mauá, e Kiko Teixeira, de Ribeirão Pires (esse último tido como aquele que saiu do PSDB, mas o PSDB nunca saiu dele).

Enquanto jantava na casa de Morando, Alckmin chegou a lembrar experiências mal-sucedidas de políticos que abandonaram mandatos no início para tentar outros cargos

Uma terceira saída para Doria, talvez a mais sensata, seria honrar seu primeiro mandato como prefeito de São Paulo. Vale lembrar que, enquanto jantava na casa de Morando, em São Bernardo, Alckmin não deixou de mencionar que José Serra se deu mal ao renunciar à Prefeitura para ser candidato a governador e, posteriormente, ao próprio governo paulista para concorrer à Presidência. “Renunciar no primeiro ano de mandato é muito difícil”, disparou. Segundo Vera Magalhães em seu blog no Estadão, foi “um banho de água fria” também em Morando, recém-eleito que cogitaria candidatura ao governo do Estado.

O próprio Serra é hoje um possível candidato do PSDB a governador. O atual secretário de Saúde, David Uip, e o empresário Luiz Felipe D’Ávila correm por fora.

PSDB x Temer

Quanto à corrida ao Planalto, independentemente de quem seja o candidato, o PSDB vai ter que driblar as críticas à sua defesa ao governo Michel Temer (PMDB) – há uma clara divisão interna sobre o tema. A ala paulista do partido na Câmara dos Deputados foi praticamente toda contra o relatório do tucano Bonifácio de Andrada (MG), que recomendou o arquivamento da segunda denúncia contra o presidente. A exceção foi Bruna Furlan, de Barueri.

Temer se salvou por 251 a 233 votos, mas entre os parlamentares paulistas venceu o desejo de continuidade das investigações (38 a 29). Os deputados federais que representam o ABC – Alex Manente, do PPS, e Vicentinho, do PT – mantiveram o posicionamento da primeira votação, pelo afastamento do presidente do cargo e investigação imediata.

(Arte: Gazeta do Povo/PR)

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