Com o prefeito Atila Jacomussi (PSB) preso há 15 dias, acusado de corrupção, a vice-prefeita Alaíde Damo (MDB) reassumiu na tarde desta quinta-feira (27) o comando do Paço Municipal de Mauá. Diferentemente de sua primeira passagem à frente do Executivo, ela não poupou críticas ao seu companheiro de chapa nas eleições de 2016.
“Não compactuo com coisas erradas”, disparou Alaíde, que na sequência posou para fotos com o termo de posse. Termo que, diga-se de passagem, demorou a ser assinado. A prefeita interina se dirigiu ao Paço mauaense nas primeiras horas da manhã, mas foi impedida de assumir o cargo. “Estou no meu direito”, alegou. Ela estava acompanhada do marido, o ex-prefeito Leonel Damo, e da filha, a ex-deputada estadual Vanessa Damo.
Após uma reunião com nomes da equipe do prefeito preso – incluindo o secretário de Governo, Israel Aleixo (que vinha comandando o município); o chefe de Gabinete, Márcio de Souza; e o secretário de Administração e Modernização, Marcos Eduardo Maluf – ficou decidido que o cargo seria transmitido à Alaíde no final da tarde. A esposa de Atila, Andreia Rolim Rios, secretária de Políticas Públicas para Mulheres, também participou do encontro pela manhã.
Segundo a vice, lhe foi pedido um tempo para que pudessem “arrumar as coisas e tirar quadros da parede”. No entendimento dos aliados de Atila, ela deveria assumir nesta sexta-feira (28). Na verdade, eles ainda tentavam ganhar tempo, na esperança de um desfecho favorável a um pedido de habeas corpus que está no STF (Supremo Tribunal Federal). Quando retornou no período da tarde, a prefeita interina estava acompanhada apenas de Leonel. Ao contrário do que ocorreu pela manhã, Vanessa – impedida pela Justiça de frequentar a Prefeitura durante o primeiro governo interino da mãe (entre 15 de maio e 11 de setembro) – não apareceu.
Pela Lei Orgânica Municipal, o prefeito de Mauá pode ficar 15 dias afastado sem que seja necessário a vice assumir o cargo. Após esse prazo de vacância, o Legislativo precisa autorizar uma licença. Desta vez, a Câmara não analisou o pedido de afastamento de Atila – a sessão, que ocorreria nesta quarta-feira (26), foi suspensa. O próprio socialista enviou um comunicado assinado, justificando sua ausência e a impossibilidade de comandar o município a partir deste dia 27. Como a cidade não pode ficar sem comando Alaíde tomou posse.
Atila está preso preventivamente desde o último dia 13 no âmbito da operação Trato Feito, desdobramento da operação Prato Feito que o levou para a cadeia em maio, junto com seu então secretário de Governo e de Transportes, João Gaspar. Num primeiro momento, o prefeito era suspeito de irregularidades em contratos de merenda escolar. Agora também há suspeita de corrupção na compra de uniformes e materiais escolares. Documentos levados pela Polícia Federal da casa de Gaspar durante a primeira operação revelaram uma lista de beneficiados num esquema de propina, entre eles, 21 dos 23 vereadores do município, além de um suplente. Todos receberiam dinheiro em troca de apoio a Atila. O único vereador que não aparece na lista é Marcelo Oliveira (PT).
De volta ao cargo, Alaíde promete uma limpa no primeiro escalão e rever algumas medidas de Atila. Não falou se vai reeditar o decreto de calamidade pública (que ele revogou ao reassumir) mas promete pensar em rever a decisão do prefeito de aumentar a tarifa de água na cidade. Entre os nomes do secretariado que pretende preservar está o de Rogério Babichak (Justiça e Defesa da Cidadania), que também não exonerou em seu primeiro período como prefeita interina.
“Não posso ficar com pessoas que jogam contra mim”, disse. Ao apontar o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) como seu “ídolo”, Alaíde afirmou que para compensar sua inexperiência política vai cercar-se de “gente competente”. “Tomo decisões não políticas porque não sou política, mas vão me dizer que todo prefeito e todo governador sabem de tudo? É preciso ter ao lado pessoas que entendam. Da primeira vez, fiquei calada e me atribuíram decisões que nunca tomei, como a criação da taxa do lixo. Fui acusada, mas não era eu que estava agindo desonestamente, fazendo coisa errada”, criticou.
Nesta sexta (28), Alaíde volta a dar expediente na Prefeitura de Mauá. A partir de então, começarão a surgir as primeiras demissões e nomeações. Enquanto isso, a Câmara pode levantar o recesso para analisar, no domingo (30), ao menos quatro pedidos de impeachment de Atila. O atual presidente do Legislativo, Admir Jacomussi (PRP), pai do prefeito, será substituído em 2019 pelo vereador Vanderley Cavalcante da Silva, o Neycar (SD).
(Fotos: G1)
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