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Morre o estilista Ocimar Versolato, destaque da moda internacional nos anos 90

ocimar versolato

O estilista Ocimar Versolato morreu na noite desta sexta-feira (08), em São Paulo. Ele, que tinha 56 anos, foi vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) hemorrágico (inicialmente se falou em aneurisma) na madrugada da última segunda (04), foi socorrido no Hospital São Paulo e estaria internado no Sírio-Libanês.

Nascido em São Bernardo, Versolato se tornou figura de destaque no mundo da moda internacional. Lançado no início dos anos 90, foi o único brasileiro a fazer parte da alta-costura em Paris, para onde mudou-se em 1987, e apresentou suas criações em eventos nos Estados Unidos e na Europa. Assumidamente vaidoso, assinou uma linha de perfumes, maquiagem e cosméticos, em 2009 (a Ocimar Versolato Cosmetics).

Sua trajetória foi tão controversa quanto suas polêmicas opiniões sobre o mundo da moda e as grandes marcas (ele sempre criticou a moda brasileira, por exemplo). Em 2005, Versolato se envolveu num rompimento escandaloso com sua ex-sócia Sandra Habib, a quem acusou (ela e o marido, Sérgio Habib, presidente da Citroën) de golpe. Eles tiveram lojas em pontos nobres de São Paulo – como o Shopping Iguatemi e a rua Haddock Lobo (nos Jardins) -, do Rio e de Brasília.

Na época, o casal teria concluído que o investimento – de R$ 15 milhões – nas sete lojas de alto luxo do estilista, com 300 funcionários, havia sido ousado e não teria dado o retorno no tempo esperado (após oito meses). Eles desfizeram o negócio e tentaram recuperar parte do valor investido negociando os pontos de venda. Na mesma época, a Citroën chegou a lançar o C-3 Ocimar Versolato.

“Os dois levaram até os meus alfinetes. Compraram todos os bens que a empresa tinha e não me pagaram, nem prestaram conta da empresa que eu tinha com eles. Sofri um grande golpe, de golpista profissional. Eu queria prestação de contas porque não queria o meu nome envolvido em nada ilegal”, disse em entrevista à revista Isto É Gente. O caso lhe rendeu uma depressão e também desenvolveu síndrome do pânico. “Isso me abalou porque de repente me tiraram tudo, perdi financeiramente. Parei de trabalhar porque tiraram a minha empresa, minhas máquinas de costura, meus tecidos.”

Ele vestiu atrizes, cantoras e personalidades como Luiza Brunet. Ainda criou figurinos para o cinema e para espetáculos dos cantores Ney Matogrosso e Edson Cordeiro. Em 2005, lançou o livro “Vestido em Chamas”, narrando passagens curiosas de sua trajetória: do desejo de ser estilista aos 13 anos a noites glamourosas e barracos inesquecíveis na cena fashion.

O corpo será velado e sepultado neste sábado (09), das 09h às 16h, no cemitério da Vila Euclides, em São Bernardo.

Recluso

Clique recente do estilista

Nos últimos anos, Versolato vivia em Milão, na Itália, fora da mídia. Também circulava no eixo Rio-São Paulo a trabalho. Na França, teria enfrentado problemas financeiros depois de sua marca, a O.V., entrar em concordata (quando o boato se espalhou, o estilista negou que tivesse deixado dívidas com o governo francês).

Ele era irmão do artista plástico Odamar Versolatto, também nascido em São Bernardo (onde Ocimar certa vez manifestou o desejo de montar um fábrica de roupas) e radicado atualmente em Paris – após um tempo morando em Santo André e São Caetano. A seguir algumas declarações de Ocimar Versolato:

“Roupa bem cortada e rosto bem cuidado são perfeitos juntos. A roupa você tira para dormir, a pele não. Se você quiser dormir a vida inteira sozinho, compre a roupa.”

“Vender a marca por R$ 10 mil? Jamais. Quando vi essas histórias, pensei: ‘Não tem um advogado para dizer: pelo amor de Deus, não faça isso’. Minha marca sempre será minha.” (sobre a venda de marcas brasileiras)

Maitê Proença para desfile fashion de Versolato na decáda de 90

“Ela (a moda brasileira) evoluiu nos últimos anos, mas os estilistas continuam copiando. Eles precisam deixar de ser caipiras, achando que o melhor vem de fora. As cópias e os blogs são as duas coisas mais bregas da moda brasileira.”

“Não acredito nesses grupos de moda e é difícil lutar contra eles. Não são grupos de luxo, mas grupos de lixo, já que todos fazem o mesmo produto. Hoje você pode encontrar o mesmo produto em todas as marcas que se dizem de luxo, o que é exatamente o oposto de um produto de luxo, que deveria ser sinônimo de exclusividade. Isso é mercado. Luxo é produto diferenciado.”

Linha de cosméticos lançada pelo estilista

“Não tenho paciência para fazer a mesma coisa que os outros, é muito monótono. Gosto de desafios, de ir aonde todo mundo tem receio de ir, só assim acredito que podemos fazer a diferença.”

“Desde quando luxo precisa disso? Crítica só repercute no mundinho. Por outro lado, há mulheres que colocam a roupa de qualquer jeito e quem leva a fama é o estilista. Algumas têm a bunda enorme e querem vestido justo; outras têm peito caído e querem decote lá embaixo. Não é assim! ‘Ah, mas eu quero mostrar meu peito!’ Então conserta!” (sobre a mídia oriunda da prática de presentear famosas com vestidos)

Ao lado das modelos Fernanda Tavares e Naomi Campbell

“Só o fato de a maioria (dos jornalistas) aqui (no Brasil) se considerar crítico é sinal de pretensão. Como pode existir crítica de moda em Aracaju? Na Itália, nenhum jornalista escreve: ‘Detestei o desfile da Gucci’. A moda é fonte de divisas e não pode depender de uma opinião.”

“Nunca acompanhei a moda brasileira.”

“Não serve nem para santinho de caminhoneiro.” (sobre a top Claudia Schiffer, que vetou em um desfile em Seul)

“Homenagem é para quem já morreu e eu tô bem vivo.” (ao ser homenageado no Prêmio Rio Sul de Moda, durante desfile de sua coleção em 1994)

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