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Moradores de bairros de Santo André se unem contra projeto da Prefeitura

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Um abaixo-assinado começou a circular nos bairros Paraíso, Jardim Paraíso, Vila Scarpelli, Vila Pinheirinho, Vila Floresta, Jardim Bom Pastor e Jardim Ocara, em Santo André, e vem ganhando a adesão de moradores e trabalhadores do entorno. As pessoas estão insatisfeitas com a proposta da Prefeitura de desativar o Centro POP (Centro de Referência Especializado para População em Situação de  Rua), mais conhecido como Casa Amarela, na rua Queirós dos Santos, região Central, e destinar imóvel da rua Ibirá (foto), que abrigava o antigo Lar São Francisco, para atender moradores de rua.

O Executivo evita falar em transferência da Casa Amarela, alegando que dará início a um novo projeto, o “Vida Nova”, integrante do programa “Recomeçar”, anunciado recentemente pelo prefeito Paulo Serra (PSDB). Segundo o Paço, a ideia é ir além da acolhida, oferecendo atividades que garantam “que os moradores de rua retornem às suas famílias ou consigam se desenvolver individualmente”. Detalhe: durante a gestão Carlos Grana (PT) já se divulgava que a Casa Amarela promovia ações socioeducativas, culturais e oficinas de artesanato, visando a geração de renda e a reintegração à sociedade.

“A ideia é boa na teoria. Mas não cabe para um bairro estritamente residencial”, alega a assistente administrativa Gabriela Alves. “Ainda por cima bem em frente de uma escola. Nos preocupamos com as crianças e há outras escolas que ficam bem próximas”, completa Emi Kawabata di Grado, podóloga e também moradora da região. “Não houve qualquer consulta com os moradores do bairro sobre o projeto. Tem gente, como eu, que mora aqui há 50 anos”, diz o comerciante Edson Boriero, que tem colhido assinaturas em seu estabelecimento na tentativa de barrar a proposta.

“Não podemos manter o mesmo endereço, pois usuários de drogas se apropriaram do local, o que comprometeria a mudança de abordagem do projeto”, justifica o secretário de Assistência e Inclusão Social de Santo André, Marcelo Delsir. E é justamente essa a principal preocupação de quem mora e trabalha próximo ao imóvel (que pertence a Prefeitura e tem acesso também pela rua Curupaiti) onde querem implantar o “Vida Nova”.

“Muitos moradores de rua são usuários de drogas e, por mais que a Prefeitura fale que será um projeto ‘da porta para dentro’, já conversei com moradores de rua que alegam que só procuram abrigos para tomar banho, que não gostam de ficar, pois muitos tem cachorros que não são acolhidos. Outros só dormem quando está frio e saem, mas ficam por perto. Falam que agora eles só vão trabalhar durante o dia e ir embora a noite. Ir embora pra onde? Só querem mudar de um lugar para o outro, tememos que continue tudo a mesma coisa”, completa Boriero.

“Entendemos o receio em relação à segurança dos moradores do bairro, mas é importante ressaltar que isso não é uma punição para eles, estamos trabalhando com outras pastas como Saúde, Segurança e também com o SEMASA para garantir o bem-estar de todos”, afirma Delsir. “Além disso, estamos disponíveis para conversar com a população para resolver problemas pontuais à medida que eles forem aparecendo. O que não podemos é deixar seres humanos em situação de vulnerabilidade sem atenção ou direcioná-los para regiões onde não há população, se nosso trabalho é integrar as pessoas”, completa o secretário.

“O que queremos é que entendam que o local é inadequado, poderiam procurar outro espaço ou manter no Centro, procurando solução para a situação dos usuários de drogas, não transferindo o problema”, pontua Gabriela. “O prefeito tem falado em novas creches, então, por que não revitalizam esse espaço e já abrem uma nova creche? Quantas crianças já não tirariam da fila? Ou uma unidade de Saúde, secretarias, enfim…”

“A Casa Amarela, infelizmente, não é um lugar frequentado só por pessoas em situação de rua, pois a Prefeitura concede alguns benefícios como vale para almoço no Bom Prato e aluguel social. É um lugar muito complicado. É até irônico eu falar isso, pois faço um trabalho semanal com moradores de rua, inclusive, na Casa Amarela. Mas tem moradores de rua que não querem ir pra lá devido ao acesso de todo tipo de gente, de usuários de drogas e à criminalidade. Já presenciei brigas com uso de facas, mesmo com guardas municipais lá dentro. Não podemos permitir que transfiram isso para o nosso bairro, temos que nos unir”, comenta um assistente social, que prefere não se identificar.

Usuários de drogas

O relato vai de encontro ao que o próprio secretário reconheceu – que usuários de drogas se apropriaram da Casa Amarela. “Quem garante que não migrarão todos para cá e ficarão perambulando pelas ruas, ameaçando estudantes, trabalhadores e moradores”, reforça Gabriela. Delsir argumenta que tratamento para vício em drogas e álcool é feito em equipamentos da Secretaria de Saúde, como o CAPS AD (Centro De Atenção Psicossocia Álcool e Outras Drogas).

Abaixo-assinado que vem circulando contra a mudança da Casa Amarela

Abaixo-assinado que vem circulando contra a mudança da Casa Amarela

Nesta terça (11), a Prefeitura realizou uma reunião com representantes do CONSEG (Conselho de Segurança) do bairro, da ACISA (Associação Comercial e Industrial de Santo André), do 1º Distrito Policial e do 41º Batalhão da Polícia Militar para explicar o projeto destinado ao novo endereço aos comerciantes, que saíram insatisfeitos e receosos do encontro. Uma nova rodada foi marcada para o próximo dia 24, às 19h, na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André para o esclarecimento de dúvidas.

Em visita à Câmara Municipal, nesta terça, ao ser informado sobre o abaixo assinado pelo BLOG DO BAENA, o prefeito Paulo Serra disse que trata-se de um estudo, que cabem discussões e nada está definido. Os moradores, porém, foram avisados que a mudança é para daqui 90 dias. Eles tem buscado apoio de vereadores, como Fumassa (PSDB), na tentativa de reverter a situação.

Segundo nota oficial, a Prefeitura de Santo André ainda analisa que destino será dado ao prédio onde atualmente está instalada a Casa Amarela, no Centro. O imóvel é próprio.

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