O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi escolhido como patrono do Instituto Futuro (batizado Marco Aurélio Garcia), lançado nesta terça (15), durante evento na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. Na condução dos trabalhos estará a Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET), de Buenos Aires – criada e mantida pelo movimento sindical argentino -, em parceria com o Conselho Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
Durante o evento, políticos de esquerda da Argentina e de outros países da América Latina, sindicalistas, representantes de universidades e movimentos educacionais destacaram políticas públicas de inclusão implantadas no Brasil pelo ex-presidente, teceram críticas à atual situação econômica, política e social brasileira – em especial aos projetos de reforma trabalhista e da previdência – e ao que chamaram de “retrocesso no continente latino-americano”, no que se refere à “demonização dos governos populares”.
Segundo o ex-ministro Luiz Dulci, que será o diretor da organização, o objetivo do encontro não foi apenas apresentar o Instituto Futuro, mas abrir um canal para a participação e a troca de ideias, entre sindicalistas, intelectuais, artistas e partidos progressistas e democráticos, visando o desenvolvimento compartilhado e a integração latino-americana. Martín Granovsky, professor e jornalista argentino, será o coordenador executivo.
A avaliação dos governos progressistas da região estará na pauta do Instituto. Além de discutir políticas públicas de governos populares, promete estudar as administrações conservadoras para promover reflexões para o avanço da democracia e da justiça social. Não só Lula, mas a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi apontada como referência na América Latina por participantes do encontro.
Solução política
Convidado especial do evento de fundação da UMET, em 2013, na Argentina, Lula agradeceu o novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana (o Wagnão), pela liberação do local para o lançamento do Instituto Futuro. “Esse sindicato aqui, junto com o dos bancários, é um dos mais importantes da luta urbana e pela democracia no país.”
Antes de seu discurso, Lula destacou o estatuto do instituto. Ele evidenciou trechos como “compreender como estão se dando os novos pactos de poder conservador entre o grande capital, os meios de comunicação e setores do judiciário, que em vários casos não hesitam em recorrer a formas inéditas de golpismo para barrar o avanço eleitoral e político das forças populares no continente. E quais são as reações dos nossos povos a essas tentativas de retrocesso histórico, que buscam cancelar direitos sociais e políticos arduamente conquistados”.
Lula fez questão de destacar que Hugo Chavez teve “mais acertos que erros” e criticou a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Venezuela. “Maduro (Nicolás, atual presidente venezuelano) não tem a eloquência de Chavez, mas aprendemos a defender a autodeterminação dos povos. Por isso, queremos que maduro acerte. Conflito não se resolve com armas, mas com diálogo, acordo e paz. Para isso, é preciso vontade política”, observou. Nos últimos dias, Trump disse considerar a opção militar na Venezuela contra o governo Maduro.
O ex-presidente lembrou das relações entre países sul-americanos na época em que governava o Brasil e pregou a importância da integração. “Vivemos o período mais democrático da América Latina e agora estamos vendo o que? A situação desmoronar. A verdade é que ninguém quer ser amigo de país pobre, só quer saber de se aproximar de Estados Unidos, Japão, China… Briguei por autonomia.”
Para Lula, estamos vivendo um movimento mundial de negação da política. “Quando começam a negar a política, os movimentos sindicais e organizações dos trabalhadores, para onde vamos? A quem interessa essa despolitização da sociedade? Me coloco à disposição para a criação da ‘Grande América’, para que o movimento social participe mais ativamente das políticas que queremos colocar em prática. Estivemos perto de fazer algo muito importante”, recordou.
Segundo o patrono do Instituto Futuro, a solução para a atual crise brasileira, com alto índice de desemprego, é exclusivamente política. Foi aí que o petista, alvo de investigações que podem ameaçar sua volta à presidência, enviou seu recado. “A política está judicializada e o judiciário está despolitizado no Brasil. Não temos solução técnica, é política. Precisamos criar novos quadros políticos para dirigir a América Latina”, finalizou Lula.
O evento contou também com a participação dos ex-chanceleres Celso Amorim (Brasil) e Jorge Taiana (Argentina). Líderes das maiores centrais sindicais do Brasil e de países vizinhos também marcaram presença, como Hugo Yasky (à direita de Lula na foto), secretário da Central dos Trabalhadores da Argentina.
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