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Morando demora cinco meses para reduzir próprio salário e culpa Marinho

170419_Sancao de Lei PRT 15 Foto-Gabriel Inamine

Nem na hora de propor a redução do próprio salário, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), deixou de alfinetar seu antecessor, Luiz Marinho (PT) – tem sido assim , repetitivo, toda vez que tenta justificar os entraves do atual governo municipal.

O chefe do Executivo, que recebe R$ 30.625,77, enviou proposta à Câmara solicitando nulidade ao acréscimo de 19,61% incorporado pelo seu antecessor – e aprovado pela legislatura passada. Ainda sugere, além de seu subsídio mensal voltar aos R$ 25.604,69 (de antes do aumento), a devolução de valores adicionais recebidos de janeiro a maio.

“Distraído”

A justificativa para só tomar tal atitude agora, após cinco meses na cadeira de prefeito, foi estar “focado em resolver os problemas da cidade” e que “desapercebidamente” não tinha se atentado ao valor que vinha recebendo, um dos maiores do país. Também lembrou que era deputado estadual quando Marinho aumentou o próprio salário, o criticou pela atitude e está “sendo coerente agora”. Tudo gravado em vídeo para suas redes sociais.

Curiosamente, o jornal regional Repórter Diário destacou, em abril, que o salário de Morando é o maior do ABC e – junto com o do tucano Paulo Serra, de Santo André (R$ 27.277,32) – superior aos ganhos de 25 dos 26 prefeitos de capitais brasileiras (só perdem para Alexandre Kalil, do PHS, de Belo Horizonte, que tem salário base de R$ 31.113,02) e do governador, Geraldo Alckmin (R$ 21.631,05), também do PSDB.

João Doria (PSDB), prefeito da capital, recebe R$ 24.165,87 e, na Grande São Paulo, outro tucano – Marcus Melo, de Mogi das Cruzes -, ganha R$ 27.520,29. Os vencimentos de Melo o colocam em terceiro lugar no ranking salarial dos prefeitos das 15 cidades paulistas mais populosas – atrás de Morando e de José Crespo, DEM, de Sorocaba (R$ 28.333,33) -, seguido de Paulo Serra. Segundo a reportagem, o salário de Morando quase supera o do presidente Michel Temer (PMDB), que é de R$ 30.934,70 (diferença  de apenas R$ 308,93). Regalias não foram levadas em conta…

Enfim, a decisão só veio depois desse minucioso trabalho de apuração jornalística. Com a redução do salário do prefeito, a Prefeitura de São Bernardo estima economizar em torno de R$ 80 mil até o fim do ano e mais de R$ 300 mil ao longo do mandato (considerando 13º salário e férias). Em nenhum momento, Morando propôs receber menos que o patamar salarial de Marinho antes do acréscimo.

Em janeiro, o vereador Julinho Fuzari (PPS), da oposição, protocolou ofício sugerindo ao tucano que abrisse mão do aumento salarial concedido pelo ex-prefeito. Também foram reajustados os contracheques do vice (de R$ 12,8 mil para R$ 15,3 mil) e dos secretários municipais (de R$ 19,2 mil para R$ 22,9 mil). Na ocasião, foi justificado que o aumento teve como base o índice aplicado aos funcionários em acordo com o Sindserv (Sindicato dos Servidores Públicos). Morando avisa que reduzirá só o próprio salário e não mexerá com os dos demais.

No início deste mês, o IG noticiou que, ironicamente, a Prefeitura de São Bernardo fala sobre economia de R$ 1 milhão por dia graças ao “choque de gestão”, mas não economizou com propaganda para comemorar os 100 primeiros dias de governo Morando, na Rede Globo (o comercial diário de 30 segundos, em horário nobre na emissora, é o mais caro do Brasil), fora os custos para a produção dos vídeos veiculados, ultrapassando o orçamento mínimo.

Parte do dinheiro que foi economizado pela Prefeitura de São Bernardo nos últimos 100 dias, portanto, está sendo usado em marketing externo ao município (…) Na propaganda veiculada na televisão e nas redes sociais, a Prefeitura de São Bernardo anuncia ter ‘respeito com o dinheiro público’ (…) Parte deles (munícipes) reclamaram ‘só ver propaganda’, mas não resultado real e outra parte fez cobranças pontuais a respeito de melhorias no município”, menciona o texto do portal.

Piscinão do Paço

Morando assinou nesta semana termo de compromisso com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que irá gerenciar o projeto do Piscinão do Paço e viabilizar um cronograma dos serviços. O contrato tem valor de R$ 3,7 milhões e prazo de 12 meses. A ideia é agilizar o ritmo das obras e definir um prazo para a conclusão. Os serviços são tocados pelo Consórcio Centro Seco (formado pela OAS e Serveng Civilsan).

De novo, o prefeito criticou seu antecessor (que iniciou o projeto para conter as enchentes no Centro da cidade), além dos contratos e aditivos firmados por Marinho. Inicialmente, foram calculados em R$ 294 milhões, em dezembro de 2013, quando as intervenções tiveram início, mas o valor chegou a R$ 319 milhões, em setembro de 2016.

A gestão anterior lembra que também há recursos do governo federal nas obras, por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O atraso nos repasses de Brasília, devido à crise econômica e política no país, foi apontado pela equipe de Marinho, inclusive, para a não conclusão desse e de outros projetos na cidade.

O Piscinão do Paço terá capacidade de armazenar até 220 milhões de litros e será interligado com galerias construídas sob a Rua Jurubatuba e a Avenida Aldino Pinotti.

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