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“A Prevent Senior precisa ser preservada”, diz especialista em gestão de crise

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Para João Fortunato, jornalista e mestre em Comunicação, os gestores da operadora devem ser afastados e punidos, mas os clientes, a maioria na terceira idade, não podem ficar sem atendimento

O caso Prevent Senior vem ganhando repercussão na mídia nos últimos dias e levantando dúvidas sobre o futuro do negócio, principalmente entre os clientes do plano. Será que a empresa, com duas unidades próprias na região do ABC – o Hospital Sancta Maggiore de São Bernardo do Campo e o Núcleo de Medicina Avançada em Santo André – vai resistir à pressão? Sobre o assunto, o Blog do Baena conversou com o jornalista João Fortunato, mestre em Comunicação e Cultura Midiática, além de especialista em Gestão de Crise.

Para o analista, é importante que se preserve a operadora de saúde em razão de seus milhares de clientes, a maioria idosos – público-alvo do seu marketing -, mas sem eximir a necessidade de investigação e punição rigorosas para os envolvidos nas denúncias em questão. A Prevent Senior possui carteira de mais de 500 mil beneficiários.

“Não se discute a necessidade de afastar e punir rigorosamente a todos os envolvidos nesse escândalo, que já vitimou no mínimo oito pessoas, segundo está sendo apurado. De acordo com a CPI do Senado, que investiga o caso depois de denúncia jornalística, estes números podem ser maiores. As imputações começaram pelos médicos da própria operadora, que discordaram da maneira como eram obrigados a tratar os pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus, em total desacordo com o que professa a Ciência sobre a enfermidade. Agora, são ex-pacientes e familiares de pacientes que passaram pelo périplo desse tratamento ineficaz, e não resistiram, que estão na mídia expondo a empresa e suas mazelas”, lembra Fortunato.

A erupção desse “vulcão raivoso”, que não cessa de expelir más notícias sobre a conduta ética na gestão médica dos casos de Covid-19, sobretudo nos momentos mais agudos dessa pandemia, abala fortemente a credibilidade da empresa, avalia o especialista. “A lava escorre por diferentes fontes de comunicação e, nas áreas de Medicina e Saúde, sobretudo, credibilidade é vital. Sem ela, os negócios correm sérios riscos de continuidade.”

Fortunato defende que a Prevent Senior precisa continuar em funcionamento, com novos gestores, seguindo protocolos de eficácia comprovada e procedimentos condizentes com a Ciência. “Não dá para ser diferente. A operadora não pode ser tratada como vilã e nem como ‘empresinha’ de fundo de quintal. Ela existe desde 1997, tem mais de 500 mil vidas, vários hospitais e centros de atendimento nos quais trabalham quase dez mil pessoas. É uma máquina que falhou, mas que precisa ser consertada e seguir funcionando.”

Segundo ele, é preciso pensar nesses beneficiários, que não podem ficar no limbo. A solução para preservar o atendimento dessa clientela – que já sofre com a chuva de notícias ruins – passaria por um grande esforço das autoridades para manter a Prevent Senior operando.  “A sociedade espera uma comunicação clara e objetiva nesse sentido. Empresas, obviamente, não cometem ‘pecados’, mas seus administradores sim. Por isso, apenas eles devem ser punidos com o rigor da lei. A imagem pública da Prevent Senior está abalada e, por certo, muitos de seus clientes, por este temor, já debandaram ou pensam em fazê-lo. E como uma coisa puxa a outra, o faturamento também deve estar caindo. Até que nível a empresa suporta para se manter em pé e operando?”, questiona.

E se, no percurso da investigação, a Prevent Senior quebrar ou enfrentar dificuldades financeiras graves, como muitas empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, por exemplo, como ficam os idosos e idosas, clientes da operadora? “Esse público é considerados um peso para a maioria das empresas de planos e seguro saúde. Serão transferidos para outros, tendo como vantagem apenas a liberação de carências e um ligeiro desconto no primeiro ano de contrato? Trata-se de um filme velho que não pode ser repetido. É preciso pensar a respeito e agir antes que o pior aconteça.”

No que diz respeito à continuidade dos negócios, a Operação Lava Jato deve servir de reflexão, opina o gestor de crise. “Quantas empresas enfrentaram dificuldades, tiveram que ser desmembradas e até mudar de nome para seguir operando? Quantos empregos foram perdidos, quantas famílias foram atingidas?”, recorda.

Fortunato acredita que o mesmo não pode se passar com a Prevent Senior. “Diante desse quadro, assustador sob todos os aspectos, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) deveria imediatamente decretar intervenção na operadora, colocar um administrador competente e afastar os atuais executivos até que o caso seja concluído. Seria uma das formas de punir os responsáveis por seus crimes, se comprovadamente os cometeram , e manter a operadora em funcionamento”, conclui.

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