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Vem aí o ‘apagão’ da educação brasileira

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Leandro Prearo*

Fiquem tranquilos, desta vez a Enel não tem culpa, não falaremos sobre falta de energia elétrica. O que vamos abordar nesse artigo diz respeito ao total descompromisso com a formação inicial de professores – o déficit no mercado de trabalho do setor educacional e as consequências para o ensino no Brasil. E com base em estudos, já afirmo: faltarão 235 mil professores na Educação Básica em 2040, segundo o Instituto Semesp. É o sistema de ensino brasileiro, que já não é bom, à beira do precipício, o verdadeiro “apagão educacional”.

O estudo aponta alguns motivos que levaram a esse cenário desesperador, e que atribuo, sobretudo, à ausência de políticas eficientes nas últimas décadas. A condição da falta de professor permeia em alguns universos: a apresentação de total desinteresse do jovem em seguir carreira no Magistério pela baixa remuneração; o envelhecimento do corpo docente; o abandono de profissionais devido às condições de trabalho; e a queda de participação de novos alunos nos cursos de licenciaturas. Outro ponto que mereceu atenção especial após o estudo é a saúde mental dos professores, que piorou após a pandemia da Covid-19.

Se tudo caminhar como está, faltarão professores no País. Isso quer dizer que nossos filhos, netos e bisnetos terão dificuldades de cursar o Ensino Básico, especialmente na rede pública, carente de gestão eficiente que mitigue o problema com precisão, mesmo adotando medidas paliativas ou emergenciais. É papel do Governo Central elaborar essas novas ações, com pensamento a longo e médio prazos. Mas, regionalmente, é possível se sensibilizar e atuar para propiciar resolutividade ao tema.

Como reitor da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), costumo dizer que o sentido principal da Universidade é atuar, de fato, como partícipe do enfrentamento dos desafios da comunidade onde ela está inserida. Em São Caetano, a USCS é exemplo em diversas parcerias que foram consolidadas para cumprimento do seu papel social, de envolvimento comunitário e como um das hélices que formam a inovação das relações produtivas: a universidade com a ciência e conhecimento, o governo como regulador, as empresas oferecendo produtos e serviços; e o terceiro setor, representando a sociedade civil.

São Caetano do Sul é diferenciada do ponto de vista da gestão pública e as inovadoras políticas educacionais garantem uma das melhores cidades do Brasil para se viver e, especialmente, para estudar. A Prefeitura valoriza seus profissionais, oferece estrutura adequada em seus espaços escolares e investe em tecnologia para promover eficiência no aprendizado. Mesmo assim, não está alijada do cenário da falta de professores. É por este motivo que, por meio da USCS, estamos elaborando um plano que enfrente a problemática.

Os gestores públicos do Brasil precisam ir ao encontro de soluções. A primeira delas é subsidiar a formação de professores para áreas de conhecimento essenciais, como Matemática, Português, Física, Química, Geografia e Biologia. Os suportes tecnológico e de infraestrutura precisam vir acompanhados do apoio na saúde do professor. Não são raros os casos de excesso de trabalho, violência em sala de aula e pressão psicológica. Após a pandemia, esses fatores se potencializaram, deixando, portanto, abismos de aprendizado que precisam ser recuperados ao longo dos ciclos de ensino.

Perseguir uma formação adequada e valorizar o professor no tripé cabeça, coração e bolso devem ser as nossas metas para conquistar os avanços necessários.

*Prof. Dr. Leandro Prearo é reitor da USCS (Universidade de São Caetano do Sul) e membro do CEE (Conselho Estadual de Educação) de São Paulo

 

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