O mito do filho perfeito: pressão para que filhos alcancem perfeição pode prejudicar seu desenvolvimento
Especialista fala sobre necessidade da criação de vínculo emocional com os filhos e de aceitar suas imperfeições e escolhas
Quando as pessoas descobrem que serão pais, um turbilhão de ideias passa por suas cabeças. Imaginam se o bebê será menina ou menino, se terá as feições do pai ou da mãe, quando aprenderá a falar, entre outras diversas coisas. Além disso, enquanto os filhos crescem, alguns pais os idealizam de maneira perfeita: arquitetam sua futura carreira, hobbies, personalidade, relacionamentos e até decisões. Toda a vida da criança é traçada na cabeça dos genitores.
No entanto, nem sempre os filhos atendem às expectativas dos pais e os motivos são simples: são pessoas diferentes, têm seus próprios ideais, sonhos e objetivos. O problema é que, muitas vezes quando isso acontece, a relação com os filhos pode ficar estremecida, pois muitos pais não possuem maturidade para lidar com os filhos considerados por eles imperfeitos.
“Os pais planejam a vida dos filhos desde o nascimento. Querem que sejam bonitos, inteligentes, magros, obedientes, que estudem, trabalhem, namorem, casem e sejam ricos. Quando um filho (ou filha) pratica automutilação, usa drogas, tem uma orientação sexual diferente da esperada, engorda, engravida e sonha em ter uma profissão não muito rentável, é o caos”, explica Tania Queiroz, psicoterapeuta e autora do livro “Pais Imaturos, Filhos Deprimidos e Inseguros”.
Inconscientemente, muitos pais projetam nos filhos o que não conseguiram realizar em suas própria vidas. “A pressão pela perfeição pode prejudicar crianças e jovens. Muitos desenvolvem o medo de fracassar, baixa autoestima, depressão, ficam ansiosos, tristes e começam a cobrar esta perfeição de si próprios”, diz a autora.
Nayara*, de 19 anos, cresceu com as altas expectativas de seus pais que, além lhe exigirem muito, sempre fizeram questão de compará-la à irmã mais velha: “Eu tenho uma irmã mais velha bastante exemplar, então cresci com expectativas sobre ser como ela, ser perfeita segundo o que os meus pais consideram como perfeição. Então foi difícil crescer sendo cobrada indiretamente para cumprir com certos requisitos”, relata a jovem.
Para Tania, os pais deveriam fazer uma autoavaliação e refletir a respeito da forma com que estão gerando expectativas sobre seus filhos, além de mensurar as consequências de suas atitudes ou da falta delas. Desta forma, seria possível operar as mudanças necessárias de maneira a garantir uma educação de qualidade, estabelecendo um vínculo emocional e não apenas material com os filhos, aceitando suas imperfeições e escolhas.
“Algumas das cobranças que ouvi durante a vida foi sobre ser uma mulher perfeita, especialmente como esposa e dona de casa. Meus pais sempre tiveram expectativas sobre eu aprender a fazer todos os afazeres domésticos com perfeição, já que só assim, segundo eles, eu poderia ter êxito no futuro”, exemplifica Nayara.
Segundo a psicoterapeuta, a busca dessa perfeição dentro de valores rígidos tem destruído milhares de jovens que, quando não conseguem ser o que os pais sonharam e planejaram, ficam confusos, estressados, sem recursos emocionais e psicológicos adequados. Alguns chegam a até tentar o suicídio.
“É preciso aceitar a realidade tal qual se apresenta bem diante do nosso nariz e resgatar a tolerância à frustração e à dor, aos problemas inerentes à existência humana que nos fazem amadurecer. É hora de aprendermos a lidar com os problemas reais dos nossos filhos” finaliza a escritora.
*o sobrenome foi omitido para preservar a fonte
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