Em parceria com o Estado, município será o primeiro da região a rastrear e tratar, na Atenção Primária, pacientes com potencial de desenvolver doença renal crônica
Santo André é o primeiro município da região do Grande ABC a implantar Linha de Cuidado em Saúde Renal com o objetivo não apenas de tratar a doença renal crônica, mas monitorar desde a infância pacientes com potencial de desenvolver problemas renais. A oficialização do protocolo, que tem diretrizes da Secretaria de Saúde do Estado, ocorreu em evento nesta sexta-feira (19), na sede do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, com representantes das duas esferas de governo.
A nova linha de cuidado estabelece o rastreamento adequado dos potenciais pacientes renais, por meio de exames como creatinina (substância que deve ser eliminada pelos rins na urina) e microalbuminuria em amostra isolada (que mede concentrações de proteína na urina), pela Atenção Primária, visando um encaminhamento oportuno à Atenção Especializada para tratamento com nefrologista e equipe multiprofissional.
“Na verdade, não estamos inventando nada, só estabelecendo que se faça o que precisa ser feito, mas em geral não é o que acontece. A Atenção Primária está nos municípios e esse protocolo faz com que as unidades básicas de saúde se apropriem desse assunto, qualificando os encaminhamentos para que somente casos graves fiquem com o nefrologista, que terá tempo de tratar o doente renal de forma adequada”, explicou o médico Farid Samaan, do Grupo de Planejamento e Avaliação (GPA) da Coordenadoria de Regiões de Saúde do Estado.
Segundo o especialista, a maioria dos investimentos dos estados brasileiros, mesmo em complemento aos recursos disponibilizados pelo Ministério da Saúde, é em diálise. Pouco se investe num protocolo adequado de exames preventivos e no rastreamento de possível doença renal crônica.
“É isso que estamos fazendo aqui em Santo André, capacitando médicos, enfermeiros, nutricionistas, agentes de saúde e gestores da Atenção Primária para que peçam todos os exames necessários”, complementou Samaan.
Segundo a coordenadora da Atenção Primária de Santo André, Marinalva Chiafarelo Ulian, o município já está adequado aos protocolos e iniciando as condutas (atendimentos, exames, capacitações etc.), conforme nota técnica existente. “Posteriormente, apresentaremos os resultados ao Estado.”
No Brasil, a idade média dos pacientes que iniciam diálise é de 59 anos, enquanto nos países desenvolvidos é de 69 a 74 anos. Isso se deve a um cuidado pré-dialítico inadequado.
Pelo menos 10% da população adulta têm doença renal crônica e os transplantes consomem de 2% a 5% dos gastos em saúde, tornando oneroso algo que pode ser prevenido, pois o diagnóstico precoce é simples, de baixo custo e o tratamento factível e disponível no SUS (Sistema Único de Saúde). Deve-se levar em conta ainda que os fatores de risco para a doença renal crônica são conhecidos: idade avançada, obesidade, diabetes e hipertensão arterial.
“Hoje vivemos uma crise de hemodiálise no País e é muito significativo esse olhar do Estado para os avanços de Santo André na saúde. Ao dar à sua linha de cuidado o nome de Saúde Renal e não de DRC (Doença Renal Crônica), o município já demonstra seu foco na promoção de saúde. São coisas básicas, como estimular a população a tomar água e a diminuir o sódio na comida, e que podem ser transmitidas pelos agentes de saúde, que fazem com que as pessoas tenham saúde renal”, disse a articuladora da Atenção Primária do Estado de São Paulo, Geralda Aparecida Vieira de Carvalho.
De acordo com o diretor técnico do GPA da Coordenadoria de Regiões de Saúde do Estado, Marcos Andrey Dompieri, a cidade deve ser uma referência no Grande ABC e na região metropolitana de São Paulo para o avanço da linha de cuidado para outras regiões do território paulista. “Estamos implantando uma estratégia de longo prazo, investindo em educação permanente, para resultados a médio prazo”, pontuou. Além de Santo André, apenas Santana de Parnaíba desenvolveu essa parceria.
“Diante de todos os desafios da gestão de saúde no Brasil, para Santo André o pioneirismo da implantação dessa linha de cuidado, em parceria com o Estado, é muito importante e estamos felizes com esse reconhecimento, que é resultado do trabalho e dedicação de todas as nossas equipes. Nós estamos focando em prevenção e, certamente, teremos resultados significativos para apresentar”, destacou o secretário municipal de Saúde, Acacio Miranda.
O evento, voltado à toda a rede de saúde do município (atenção primária, especializada, hospitalar, saúde mental, vigilância em saúde, urgência e emergência), contou também com a participação do médico nefrologista Caio Malerbi, coordenador da Nefrologia ambulatorial de Santo André.
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