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Em Pilar do Sul, produtores de trigo projetam safra de 340 mil toneladas para 2025 no estado de SP

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Cenário é de otimismo diante de uma das melhores colheitas dos últimos três anos

Com estimativas que apontam uma das melhores colheitas dos últimos três anos e produtividade média entre 3,5 mil e 4 mil toneladas, com expectativa de alcançar 340 mil toneladas no total, o cenário do trigo em São Paulo é de otimismo. Os números foram apresentados durante a segunda reunião da Câmara Setorial do Trigo, realizada nesta quinta-feira (31), na sede da Ouro Safra, em Pilar do Sul, encontro que reuniu representantes da cadeira produtiva, além do secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Guilherme Piai.

A atual safra, segundo o vice-presidente da Câmara Setorial do Trigo de São Paulo, José Reinaldo Oliveira, representa um momento animador para o setor. “Apesar de um breve período de instabilidade, o clima neutro predominante favoreceu o desenvolvimento das lavouras e contribuiu para a baixa ocorrência de doenças, o que reduziu a necessidade de intervenções no campo. A sanidade das plantas está excelente e tudo indica que os produtores colherão volumes superiores aos das últimas safras”, avaliou.

As projeções de produtividade podem ser ainda maiores em áreas irrigadas ou conduzidas com manejo mais intensivo. “Com base nos dados discutidos na Câmara, São Paulo deve ultrapassar as 340 mil toneladas. Embora já tenhamos registrado números superiores em anos anteriores, essa será uma marca positiva, especialmente diante da redução de área e da competição com o milho safrinha”, pontuou Oliveira.

Entre os principais desafios enfrentados pelos produtores nesta safra estão os altos custos de produção e o aumento dos juros sobre o crédito rural. Esses fatores impactaram diretamente o planejamento das lavouras e limitaram a expansão de área cultivada. “A insegurança financeira levou muitos agricultores a optarem por culturas de menor investimento ou até mesmo a não plantar”, lembrou o vice-presidente.

O bom momento para a cultura do trigo se reflete no preço da tonelada, negociada a R$ 1,5 mil – aumento de 20% de 2024 para 2025. Com alta produção e potencial de consumo de 1 milhão de toneladas, o mercado acena com mais espaço para crescer diante da boa expectativa de safra.

Reflexos de um Estado alinhado ao agronegócio 

Para o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, o fortalecimento da cadeia produtiva é o principal motor de crescimento do setor. “Quando a cadeia está bem estruturada e organizada, ela avança mesmo sem depender tanto do poder público. Mas o nosso papel é apoiar, é uma obrigação”, destacou.

De acordo com Piai, as câmaras setoriais têm papel estratégico por reunirem todos os elos da produção, desde o agricultor até a agroindústria e o exportador. “Esse formato é fundamental para o fortalecimento do setor”, disse.

O secretário também destacou o papel do agronegócio no desempenho da economia paulista. “Em 2025, o agro puxou o crescimento do PIB estadual, com alta de 8%, enquanto os serviços cresceram 3% e a indústria apenas 0,9%. É o campo que está impulsionando São Paulo”, contextualizou.

Piai ainda usou a produção de trigo como exemplo para destacar que a região é uma potência agroambiental. “Produzimos com sustentabilidade e preservamos como nenhum outro país. Temos a maior diversidade de culturas e um papel decisivo na segurança alimentar global.”

Mercado global deve pressionar preços do trigo brasileiro 

O evento também contou com especialistas em consultoria. Jonathan Pinheiro, analista da StoneX, elencou os riscos de mercado que cercam a safra atual na região, que deve ser ligeiramente menor em comparação ao ciclo anterior.

Segundo ele, o cenário global impõe uma forte pressão sobre os preços, já que cerca de 80% da safra mundial está sendo colhida neste momento. “Estamos muito próximos do piso de mercado, o que exige atenção redobrada na gestão de risco”, afirmou.

No mercado internacional, a demanda segue aquecida, mas estoques elevados na Argentina geram uma pressão adicional sobre os preços no Brasil, mesmo com uma produção nacional menor, o que aumenta a necessidade de importações. “O momento no Brasil é de consolidação da safra, e ainda precisamos aguardar para ter uma noção mais precisa do volume final. Enquanto isso, fatores cambiais seguem sendo determinantes.”

ICMS permite maior previsibilidade financeira e reinvestimento na produção de trigo 

Os consultores da Lastro, Gustavo Lopes Venâncio e Viviane Morales, apresentaram detalhes sobre o benefício fiscal de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) voltado ao produtor rural. São Paulo é um dos poucos estados que permitem a recuperação eletrônica e segura do imposto, desde que respeitadas as exigências legais.

Segundo os especialistas, muitos produtores ainda desconhecem a possibilidade de reaver o ICMS pago na compra de insumos como fertilizantes, embalagens, óleo diesel, bens de ativo imobilizado e mercadorias adquiridas fora do Estado. “O crédito pode ser resgatado referente aos últimos cinco anos. Em uma compra de R$ 10 mil em adubos, por exemplo, é possível recuperar R$ 400. Já em sacarias e embalagens, o valor pode chegar a R$ 1,8 mil”, explicou o consultor.

Para acessar o benefício, o produtor deve estar regularizado com inscrição estadual e CNPJ, apresentar notas fiscais em nome próprio e comprovar a posse ou exploração da terra. A solicitação deve ser feita à Secretaria da Fazenda, com documentação específica elaborada conforme as normas vigentes.

“O valor recuperado não é devolvido em dinheiro, mas creditado em uma conta vinculada ao sistema da Fazenda, podendo ser usado para pagar fornecedores de insumos, máquinas ou embalagens, por meio de cessão de créditos aprovada pelo Fisco. Além de reduzir custos de produção, o benefício permite maior previsibilidade financeira e reinvestimento direto na lavoura”, completou Viviane.

Tarifaço imposto pelo governo dos EUA

Além do debate sobre o andamento da safra de trigo, estratégias de mercado e o reforço do diálogo entre o governo estadual e a cadeia produtiva, a presença do titular da pasta de Agricultura e Abastecimento de São Paulo chamou atenção para as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às exportações de países como o Brasil. Embora um tema preocupante , o secretário do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) lembrou que o País não exporta o grão para os EUA, o que torna as tarifas norte-americanas irrelevantes para o setor.

“A produção paulista de trigo é escoada dentro do próprio Estado”, esclareceu Piai. São Paulo tem demanda de 44 milhões de consumidores, sendo o terceiro maior produtor do grão no País, atrás de Rio Grande do Sul e Paraná.

Com as negociações dos percentuais tarifários ainda em andamento, Piai ressaltou que o tarifaço é prejudicial para ambos os lados e lembrou que o governo Trump já retirou a taxação de laranja e celulose do Brasil, enquanto as cobranças ainda seguem para culturas como a do café brasileiro, um dos melhores do Mundo. Para o secretário, uma alternativa será a busca de novos mercados. “No caso da proteína brasileira, por exemplo, barata diante da desvalorização do real, uma saída é realocar a produção e tentar a reabertura de mercados como o Japão.”

A reunião da Câmara Setorial do Trigo em Pilar do Sul teve como anfitrião o empresário Valdinei de Carvalho, presidente da Ouro Safra. O prefeito da cidade, Clayton Machado (Republicanos), prestigiou o encontro e depois recepcionou o secretário Guilherme Piai no Paço Municipal.

(Com informações do Acontece Pilar do Sul / Foto: Sindustrigo)

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